segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tríduo Pascal, caminho de esperança (III)

O Tríduo Pascal termina no Sábado com a Vigília das Vigílias. Sábado Santo pode dividir-se em duas partes distintas. A primeira surge em continuação de Sexta-Feira Santa, a dúvida em relação ao Mestre. Ele dissera que ressuscitaria mas eram mais as dúvidas que as certezas. A segunda parte de Sábado Santo canta já a Alegria do Ressuscitado. Não está aqui, Ressuscitou como disse. A grande Vigília Pascal, e grande entenda-se não o epidérmico tempo que Ela demora, mas a riqueza teológica que subjaz à mesma.
Inicia-se a celebração com o Silêncio que tanto nos "ocupou" nestes dias. Depois deste, fora da igreja ou catedral, há a solene benção do Lume novo, acende-se o Sírio Pascal, símbolo de Cristo que Ressuscitou da morte, e que com ele ressuscita para uma vida nova quem com Ele se Configurou em vida. Esta primeira parte chama-se Lucernario, porque a Luz dos Povos, lumen gentium é Cristo. É no fogo que somos purificados, e o fogo é o elemento, primordial se quiserdes, que transforma em si tudo quanto é. Se deitamos um papel à terra, por exemplo, ficará sujo mas igual. Na água ficará molhado, mas o que se deita ao fogo, transforma-se em fogo.
Canta-se o precónio que é o grande anuncio da resurreição. Oh Feliz culpa, que nos mereceu tão grande redentor, Oh ditoso pecado de Adão pode ouvir-se na celebração. Ouvem-se varias leituras, sobretudo do antigo testamento. As únicas incontornáveis são a de Gn 1 e Ex 18. As leituras fazem um resumo da história da salvação e fazem presente a Aliança de Deus com o seu povo, a promessa do Messias esperado e por fim, Jesus Cristo como portador de Esperança, o verdadeiro Emanuel que vem para ser connosco Deus, o Príncipe da Paz, o Ungido.
Era necessária a sua encarnação, o seu despojamento, a sua entrega, a sua morte. Mas sabemos não ser em vão tudo isto. O Cordeiro sem mancha lava no seu sangue todos os nossos pecados. Como o Fogo, torna-nos novas criaturas. Para isso Ele veio. Para que tenhamos vida e vida em abundância (Jo 10). E só a temos, essa vida, depois da sua morte, ressurreição e glorificação.


Passando para o Domingo e consequentemente para o tempo Pascal, é tempo não mais de choro, de silêncio, mas sim de Aleluia, tempo festivo porque o Esposo está connosco de uma vez para sempre e para toda a eternidade. Faz-se o anúncio da ressurreição e a Cruz entra nas casas. É a Páscoa do Senhor.
Exultemos e rejubilemos porque Ressuscitou como disse o Salvador do mundo. Este caminho de Esperança, não termina porém. Deve, isso sim, servir de catapulta para que possamos viver como cristãos de maneira mais autentica. A vivência dos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus deve lembrar-nos da nossa condição de filhos no Filho.
Vivamos pois a Páscoa, o tempo Pascal e a nossa vida como redimidos, verdadeiramente readquiridos pelo Senhor para não mais deixar de ser dEle.
Criaste-nos para vós Senhor, e o nosso coração anda inquieto, enquanto não repousa em vós.
, lê-se no inicio das Confissões de Sto. Agostinho: precisamente.

Boas Festas Boas Festas, Cristo Ressuscitou, Aleluia! Aleluia!

Há coisas fantásticas não há?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tríduo Pascal, caminho de esperança (II)

O dia de Sexta-Feira Santa é conhecido como o dia do silêncio. Jesus, O Justo, depois de preso é julgado, ainda que no relato do evangelista João nem Anás, nem Caifás, nem mesmo Pilatos o condenam. É Ele que julga, em última instância. Jesus é entregue para ser crucificado, é flagelado, caminha para o calvário, é insultado, é cuspido, mas como Cordeiro levado ao matadouro, Ele não abre a boca. 
Sabe ser necessário este passo. A sua obediência filial leva-o a obedecer até à morte e morte de Cruz (Fil 2, 6-11). As mulheres choram no caminho e com elas também Maria, A Mãe. Ela ouvira de Simeão que uma espada de dor trespassaria o seu coração. Ela, mulher do silêncio, habituou-nos a poucas palavras. Um SIM generoso alterou o rumo da humanidade inquieta pela salvação esperada. A Ela é entregue o discípulo amado, João, e com ele, os que como ele amam o Senhor dos Senhores. E bem assim, João recebe-a por mãe, de uma vez para sempre e com ele a humanidade, filhos no Filho, temos também uma Mãe.


Esta manhã cantaram-se os ofícios na Sé Catedral de Viseu. À tarde, em memória da agora "eterna" hora nona, celebrou-se a morte de Jesus. É o único dia do calendário litúrgico que não tem a celebração da Eucaristia. Quase que se "eclipsa" a Eucaristia ante o medo e o silêncio da morte e a incerteza do amanhã informe e desconhecido. Divide-se em três partes a celebração: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e por fim a Comunhão. 
Para terminar o dia, a procissão do enterro do Senhor que todos os anos tem lugar nas ruas de Viseu. Saiu-se da Igreja dos Terceiros e foi em direcção à Sé Catedral, e depois do sermão quaresmal regressou À Igreja dos Terceiros. Felizmente houve uma participação massiva de pessoas, com uma participação na ordem das largas centenas. É certo que não se trata de um sacramento nem de um sacramental. É um acto de piedade, mas pelos actos de piedade consegue chegar-se ao Criador, ao Deus de todos.
Terminou-se a celebração num clima de silêncio. Sabe-se que morreu o Mestre, mas a Esperança na ressurreição acompanha-nos neste Caminho de Esperança. Ressuscitará como disse.
Há coisas fantásticas não há?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tríduo, caminho de esperança

Começou hoje o tríduo pascal, e como aprendiz de teólogo não poderia não deixar de partilhar convosco alguns pensamentos sobre o mesmo. 
Pode parecer que não mas a Quaresma está a terminar e este Tríduo pascal é o desfecho da caminhada quaresmal, iniciada à quase 40 dias. Na quarta-feira de cinzas, um pouco por todo o mundo, as cinzas foram impostas nas cabeças dos fiéis com o repto "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho", repto que nos fora deixado por João Baptista e que no "fim" da sua vida pública, porque era necessário que ele diminuísse para que Ele crescesse, apontou para Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus, aquele ao qual era indigno de desapertar as sandálias de seus pés, o que tem o Espírito e que baptiza no Espírito e não na água como ele baptizara. 
Durante a Quaresma pudemos ver de que maneira Jesus era o cumprimento das escrituras, o porquê da Paixão, Jesus como Cordeiro Imolado de uma vez para sempre para que os verdadeiros adoradores O adorem (Ao Pai) em Espírito e Verdade, e não mais num monte ou templo determinado. 

Esta quinta-feira pode bipartir-se. A primeira parte, de festa, faz com que o presbitério se junte ao seu Bispo e pastor como símbolo da união sacerdotal e como sinal de uma eclesiologia de comunhão. Todas as dioceses, em união com o Bispo, e todos os bispos em união com o bispo de Roma, o Papa, celebram o memorial da entrega do cordeiro que foi imolado, e bem assim, da instituição da Eucaristia. Celebra-se ainda, o dia por excelência do sacerdócio ministerial ou ordenado. Na chamada missa Crismal, o Bispo, o presbitério e o povo de Deus reunem-se para dar graças a Deus pelos Dons que ainda hoje são preservados na Igreja, e bem assim para que o Bispo possa fazer a bênção dos óleos que serão usados durante o ano na diocese, assim o óleo do Crisma, donde o nome da celebração, o óleo dos Enfermos,e o óleo dos catecúmenos. 


No final da tarde ou na noite de quinta-feira, muda de tónica a Eucaristia. Jesus que mais uma vez se tinha apartado da multidão para o sossego de um ermo monte de oliveiras é preso graças ao beijo frio da traição. Judas entrega o Justo a quem queria a sua morte. Os bens celestes e eternos, naquela noite como em tantas outras noites até à hodiernidade,  foram preteridos pelos bens materiais, mundanos, terrenos, etéreos.  Jesus é assim preso injustamente e passará a noite da véspera do 14 de Nisan sob custódia das autoridades judaicas que o queriam morto por não O reconhecerem como verdadeiro Filho de David, como O Ungido, O Messias de Deus.

Inicia-se, com a prisão de Jesus, um caminho de esperança porque sabemos do desfecho. Como Jesus explicaria depois aos discípulos de Emaús, era necessário que o Filho do homem passasse por todos aqueles momentos para depois poder de maneira mais cabal mostrar a sua glória, a glória que tinha desde a criação do mundo junto do Pai. 
Sob ponto de vista da liturgia, marca estas horas o silêncio, a eterna espera, a insegurança de quem se sabia na corda bamba, preso às palavras de Jesus, sabendo-O Único mas vivendo tudo como um pesadelo. Não era possível que tudo pudesse terminar daquela maneira.

Exagerei nas palavras. Mais para quê? É tempo de meditar e de perder algum tempo com os mistérios que dão vida à nossa Fé. A ressurreição só tem sentido se vista à luz da paixão e morte de Jesus. Boa caminhada. Lembra-te que é um caminho de esperança...