sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tríduo Pascal, caminho de esperança (II)

O dia de Sexta-Feira Santa é conhecido como o dia do silêncio. Jesus, O Justo, depois de preso é julgado, ainda que no relato do evangelista João nem Anás, nem Caifás, nem mesmo Pilatos o condenam. É Ele que julga, em última instância. Jesus é entregue para ser crucificado, é flagelado, caminha para o calvário, é insultado, é cuspido, mas como Cordeiro levado ao matadouro, Ele não abre a boca. 
Sabe ser necessário este passo. A sua obediência filial leva-o a obedecer até à morte e morte de Cruz (Fil 2, 6-11). As mulheres choram no caminho e com elas também Maria, A Mãe. Ela ouvira de Simeão que uma espada de dor trespassaria o seu coração. Ela, mulher do silêncio, habituou-nos a poucas palavras. Um SIM generoso alterou o rumo da humanidade inquieta pela salvação esperada. A Ela é entregue o discípulo amado, João, e com ele, os que como ele amam o Senhor dos Senhores. E bem assim, João recebe-a por mãe, de uma vez para sempre e com ele a humanidade, filhos no Filho, temos também uma Mãe.


Esta manhã cantaram-se os ofícios na Sé Catedral de Viseu. À tarde, em memória da agora "eterna" hora nona, celebrou-se a morte de Jesus. É o único dia do calendário litúrgico que não tem a celebração da Eucaristia. Quase que se "eclipsa" a Eucaristia ante o medo e o silêncio da morte e a incerteza do amanhã informe e desconhecido. Divide-se em três partes a celebração: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e por fim a Comunhão. 
Para terminar o dia, a procissão do enterro do Senhor que todos os anos tem lugar nas ruas de Viseu. Saiu-se da Igreja dos Terceiros e foi em direcção à Sé Catedral, e depois do sermão quaresmal regressou À Igreja dos Terceiros. Felizmente houve uma participação massiva de pessoas, com uma participação na ordem das largas centenas. É certo que não se trata de um sacramento nem de um sacramental. É um acto de piedade, mas pelos actos de piedade consegue chegar-se ao Criador, ao Deus de todos.
Terminou-se a celebração num clima de silêncio. Sabe-se que morreu o Mestre, mas a Esperança na ressurreição acompanha-nos neste Caminho de Esperança. Ressuscitará como disse.
Há coisas fantásticas não há?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Tríduo, caminho de esperança

Começou hoje o tríduo pascal, e como aprendiz de teólogo não poderia não deixar de partilhar convosco alguns pensamentos sobre o mesmo. 
Pode parecer que não mas a Quaresma está a terminar e este Tríduo pascal é o desfecho da caminhada quaresmal, iniciada à quase 40 dias. Na quarta-feira de cinzas, um pouco por todo o mundo, as cinzas foram impostas nas cabeças dos fiéis com o repto "Arrependei-vos e acreditai no Evangelho", repto que nos fora deixado por João Baptista e que no "fim" da sua vida pública, porque era necessário que ele diminuísse para que Ele crescesse, apontou para Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus, aquele ao qual era indigno de desapertar as sandálias de seus pés, o que tem o Espírito e que baptiza no Espírito e não na água como ele baptizara. 
Durante a Quaresma pudemos ver de que maneira Jesus era o cumprimento das escrituras, o porquê da Paixão, Jesus como Cordeiro Imolado de uma vez para sempre para que os verdadeiros adoradores O adorem (Ao Pai) em Espírito e Verdade, e não mais num monte ou templo determinado. 

Esta quinta-feira pode bipartir-se. A primeira parte, de festa, faz com que o presbitério se junte ao seu Bispo e pastor como símbolo da união sacerdotal e como sinal de uma eclesiologia de comunhão. Todas as dioceses, em união com o Bispo, e todos os bispos em união com o bispo de Roma, o Papa, celebram o memorial da entrega do cordeiro que foi imolado, e bem assim, da instituição da Eucaristia. Celebra-se ainda, o dia por excelência do sacerdócio ministerial ou ordenado. Na chamada missa Crismal, o Bispo, o presbitério e o povo de Deus reunem-se para dar graças a Deus pelos Dons que ainda hoje são preservados na Igreja, e bem assim para que o Bispo possa fazer a bênção dos óleos que serão usados durante o ano na diocese, assim o óleo do Crisma, donde o nome da celebração, o óleo dos Enfermos,e o óleo dos catecúmenos. 


No final da tarde ou na noite de quinta-feira, muda de tónica a Eucaristia. Jesus que mais uma vez se tinha apartado da multidão para o sossego de um ermo monte de oliveiras é preso graças ao beijo frio da traição. Judas entrega o Justo a quem queria a sua morte. Os bens celestes e eternos, naquela noite como em tantas outras noites até à hodiernidade,  foram preteridos pelos bens materiais, mundanos, terrenos, etéreos.  Jesus é assim preso injustamente e passará a noite da véspera do 14 de Nisan sob custódia das autoridades judaicas que o queriam morto por não O reconhecerem como verdadeiro Filho de David, como O Ungido, O Messias de Deus.

Inicia-se, com a prisão de Jesus, um caminho de esperança porque sabemos do desfecho. Como Jesus explicaria depois aos discípulos de Emaús, era necessário que o Filho do homem passasse por todos aqueles momentos para depois poder de maneira mais cabal mostrar a sua glória, a glória que tinha desde a criação do mundo junto do Pai. 
Sob ponto de vista da liturgia, marca estas horas o silêncio, a eterna espera, a insegurança de quem se sabia na corda bamba, preso às palavras de Jesus, sabendo-O Único mas vivendo tudo como um pesadelo. Não era possível que tudo pudesse terminar daquela maneira.

Exagerei nas palavras. Mais para quê? É tempo de meditar e de perder algum tempo com os mistérios que dão vida à nossa Fé. A ressurreição só tem sentido se vista à luz da paixão e morte de Jesus. Boa caminhada. Lembra-te que é um caminho de esperança...